terça-feira, 12 de maio de 2009

American Hardcore: O ínicio e ebulição de um submundo em crescimento.


Este documentário escrito por Steven Blush é baseado no livro American Hardcore: A Tribal History escrito pelo mesmo, e pretende documentar as raízes e a primeira vaga de uma sub cultura que ainda hoje resiste.


O hardcore surge um pouco por toda a América em finais dos anos 70, e como todas as sub culturas nasce no seio de uma juventude descontente com a sua realidade e as opções que se lhes apresentam. Por essa altura os americanos lidavam com uma economia em decadência, desemprego, inflação, e as consequências da subida de Ronald Reagan á casa branca e o consequente medo e especulação de perda de direitos individuais e de liberdade de expressão.


Ideologicamente pode dizer-se que o descontentamento e rebelião contra qualquer tipo de instituição e autoridade se assemelhava ao movimento punk, a grande diferença reside no afastamento do niilismo auto destrutivo que o punk representava pela altura. Eram os finais da década de 70 e a maior parte dos jovens americanos entravam em negação dos seus próprios problemas, reinava um pensamento purista, a sempre e nunca cessante conquista do sonho americano. Era a explosão da new wave, do disco, sem conteúdo, repulsivo para alguns jovens que nele viam nenhum tipo de conteúdo e nada mais que mentiras e falsos sonhos numa sociedade em decadência e ao mesmo tempo em negação da sua realidade.


Musicalmente as raízes do hardcore são o punk e oi! Britânico, tal como o punk não prima pelo virtuosismo ou grandes capacidades musicais, e nem era essa a intenção, era uma expressão pura de raiva e descarga de energias e frustrações. A grande diferença do punk para o hardcore é que este era mais rápido, mais agressivo, e um pouco mais sóbrio.


Este movimento era feito por miúdos, adolescentes e jovens, era feito por eles e para eles, nasce aqui o DIY (do it yourself), em que as bandas gravavam as suas próprias demos, cortavam as suas próprias embalagens e organizavam-se entre si para programar concertos, tocavam em garagens, bares, casas, fosse onde fosse. Ninguém tinha a ilusão de vender álbuns, de fazer dinheiro, de passar na rádio, nem era esse o objectivo, o objectivo sempre foi manter o movimento pelo underground e é assim que se quer. Faziam-no porque gostavam, pela diversão para se expressarem e descarregarem raiva.


Nesta altura surge com os Minor Threath o conceito straight edge, que consiste basicamente numa juventude livre de qualquer tipo de drogas e de mente limpa a toda a hora. Isto explica-se talvez pelo facto de pela altura, precisamente por causa da new wave e do disco, ser crescente o número de jovens envolvidos muito cedo em drogas pesadas e destruírem assim a sua vida mal a começam.


Sendo o hardcore acessível a pouca gente pelas suas características invulgares e intoleráveis para a sociedade, este mantém-se no underground e cria-se entre os seus ouvintes um conceito de união, de uma família, uma tribo urbana. E haviam miúdos de todas as classes sociais, nem sempre se tratava de miúdos vindos de situações difíceis, era um estado de mente, de descontentamento, de inconformismo.


Nos anos 80 não haviam manifestações assumidas, nem organizações de qualquer tipo de esquerda nos EUA, havia o hardcore, uma cuspidela na cara do conservadorismo e sonho americano republicano.

Estes jovens não tinham qualquer ilusão de grandeza, de realmente conseguir mudar algo, e não seria esse o objectivo, não se procurava a revolução, era um mundo á parte, que mais ninguém entendia e assim estava perfeito. Algo que vem da alma, longe de ser uma moda ou tendência.


Bandas como os Bad Brains, um dos pioneiros do movimento, defendiam uma atitude positiva em relação á vida e ás adversidades. Uma forma de fugir ao negativismo da pressão da sociedade, sem se alienar, mas viver a vida de forma positiva da melhor forma possível. “I don’t care what you may say, we got that attitude, I don’t care what you may think, we got that attitude, we got that PMA (positive mental attitude)”


Esta foi a primeira vaga de hardcore, que termina por volta de 1985, apenas para começar outra a seguir, em Nova York principalmente, com o lançamento de The Age of Quarrel em 1986, dos Cro-Mags, que o filme não documenta, e para o espectador menos informado pode dar a ideia que aqui foi o fim do hardcore. Foi o fim de uma primeira vaga e sentimento que nunca se irá repetir, mas apenas para dar início a muitas outras. O hardcore, como um movimento pequeno e fechado que foi, influenciou, apesar de tudo, muitos estilos de música, também ela pesada, mas mais mainstream, nas décadas que se seguiram.


Hoje em dia este movimento espalhou-se por todo o mundo, os tempos são diferentes, a música evoluiu, misturou-se com outras influências, mas continua com o mesmo propósito, diversão, expressão, libertação de energias, amizade união e perseverança. Isto para alguns, porque nesta era de informação e desinformação há sempre quem siga o sabor da corrente.

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